"O que resta da ditadura? Onde está o Amarildo?" - Questões sobre mudanças e permanências na transição democrática.
140 min
Com base na análise de fontes históricas (canção, texto e vídeo) pretende-se compreender elementos sobre a transição entre ditadura e democracia com base em mudanças e permanências. Pensada para estudantes do 3º ano do ensino Médio o objetivo central é a ampliação do conhecimento a respeito do passado ditatorial e a percepção/compreensão de problemas contemporâneos da sociedade brasileira.
CURSO: A Canção Popular no Ensino de História
Objetivos
- detectar elementos presentes nas ideias históricas dos estudantes a respeito de conflitos sociais brasileiros do passado e do presente; - identificar carências na compreensão histórica a respeito do período ditatorial (1964 - 1985), assim como em relação ao conflitos na sociedade contemporânea; - Desenvolver a interpretação de diferentes bases textuais, tais como textos historiográficos, canções, vídeos presentes na rede mundial de computadores; - relacionar elementos do passado como permanências no presente; - identificar transformações na sociedade e no tempo no que se relaciona ao passado ditatorial e as possibilidades de construção da democracia no presente; - ampliar a compreensão sobre o período ditatorial brasileiro; - ampliar a compreensão sobre elementos que envolvem política e sociedade no presente;
Requisitos
- Aparelho de som ou computador para escuta de uma canção; - Impressões de textos para leitura e discussão em sala de aula; - Folhas pautadas para a realização de anotações, análise e interpretação de fontes; - Folhas pautadas para a avaliação final.
Avaliação
Entre os materiais relacionados para a utilização nas aulas estavam as "folhas pautadas para a análise e interpretação das fontes", a ideia central é que os estudantes façam sínteses de capa etapa das aulas, construindo uma espécie de um dossiê do tema trabalhado. Ao final das etapas 1 a 5 os alunos terão um material que poderá ser consultado para a realização da avaliação final. Dessa forma há duas formas de avaliação presentes nesse trabalho: a primeira é a participação do estudante em cada uma das etapas (o que pode ser conferido pelo docente com a participação, assim como na composição do dossiê - os registros realizados pelo estudante em cada uma das etapas das aulas), e a segunda com a avaliação final a partir da narrativa produzida pelo estudante. Nessa última etapa é que a narrativa como expressão da consciência histórica se materializa. A proposta é que o estudante produza uma narrativa histórica explicando suas compreensões a respeito da fonte-canção "Amarildo" (Rafael Saddi, 2014), mas para isso o estudante precisa seguir alguns elementos norteadores: a) Escolher pelo menos duas estrofes da letra para ser explicada com maior detalhamento; b) abordar elementos relacionados ao passado (ditadura) e do passado recente (anos 2000); c) tratar dos assuntos com base em elementos que foram discutidos com base nas fontes selecionadas pelo docente, ou seja, não se trata de uma produção baseada em opiniões, e sim em conhecimentos históricos discutidos ao longo das aulas. A proposta é que seja uma narrativa histórica em formato de dissertação. O estudante poderá fazer citações de trechos da letra da canção, assim como tratar de suas percepções da canção de maneira completa, citar fontes discutidas e demonstrar os elementos de sua aprendizagem sobre o passado e sobre o presente, assim como, possivelmente, apresentar e expectativas com relação ao futuro. Essa forma de avaliação está pautada nos conceitos de narrativa histórica e consciência histórica (discutidos no âmbito da Didática da História) por autores como Jörn Rüsen, Luis Fernando Cerri, Rafael Saddi Teixeira, Maria Auxiliadora Schmidt entre outros intelectuais. As anotações dos estudantes de cada etapa da aula poderão ser utilizadas como elementos de consulta, uma vez que propõe-se aqui um trabalho com grande diversidade de fontes.
Lista de atividades
Vídeo/Música/Imagem
20 min
A primeira etapa está relacionada a escuta da canção "Amarildo" que possui letra e composição de Rafael Saddi Teixeira, professor de Didática da História da Universidade Federal de Goiás, militante na defesa da educação pública e dos direitos dos catadores de materiais recicláveis e músico. A ideia central é que, a partir de uma primeira escuta da canção, os estudantes comentem e debatam suas primeiras impressões. Algumas questões podem mobilizar essa primeira etapa da discussão, por exemplo: - O que compreenderam da canção? - Que impressões e sensações a canção passou? - A canção conta uma história? - Vocês identificaram possíveis diálogos entre as ideias apresentadas e elementos da sociedade atual? - Há presença de algum tipo de conflito na canção? Quais? Como é possível perceber isso? Todas essas perguntas podem mobilizar algumas interpretações a respeito da canção, no entanto, é importante deixar que os estudantes pensem um pouco depois dessa primeira audição, é possível ouvir uma segunda vez agora com a letra para ser acompanhada. E retomar as discussões sobre essas primeiras impressões. Algumas informações podem ser apresentadas aos estudantes já nessa primeira etapa. Tanto a respeito do autor-compositor, como do estilo musical (nesse caso o Folk - há informações sobre o estilo no link relacionado), assim como uma entrevista realizada com o professor, músico e compositor Rafael Saddi. É importante que o professor ou professora perceba que na canção há diálogos entre elementos presentes na cultura histórica da sociedade brasileira que remetem a discursos de violência, militarização, armamentismo, elogios a ditadura que podem se fazer presentes nas ideias prévias dos estudantes. É importante perceber esses elementos para pensar e adaptar possíveis encaminhamentos ao longo das aulas que tratarão dos temas. OBS.: Os arquivos das letras das canções estão disponibilizados em documento editável (.doc) e em pdf.
Leitura de texto em sala de aula
30 min
A proposta da segunda etapa da aula é a ampliação da compreensão do tema central da canção, ou seja, a morte de Amarildo de Souza, um morador da comunidade da Rocinha (zona suburbana do Rio de Janeiro), ajudante de pedreiro que foi visto pela última vez quando foi detido por policiais e levado para uma Unidade da Polícia Pacificadora (UPP) na noite de 14 de julho de 2013. O texto relacionado (que deve ser analisado como uma fonte histórica) é uma reportagem da página da BBC-Brasil. A reportagem rememora 5 anos depois o fato ocorrido em 2013. Além de contar sobre o caso ocorrido trata dos desdobramentos jurídicos relacionados ao caso, quantos policiais envolvidos, o valor das indenizações que a justiça estipulou para a família, a lentidão da justiça em finalizar o caso, as ameaças e traumas sofridos pela família que denunciou o caso e as repercussões nacionais e internacionais do caso no contexto de 2013 e 2014. A ideia é que docente e discentes façam uma leitura da reportagem com o objetivo de ampliar a compreensão sobre o caso (passado recente da História do Brasil), assim como pode identificar a presença nas ideias dos estudantes de conhecimentos relacionados a casos semelhantes, por exemplo, outros casos que envolvem violência policial,tortura e desaparecimento de cadáveres. É possível nesse momento da aula que o professor indague aos estudantes se eles conhecem outros momentos da história que casos parecidos tenham ocorrido, assim como indagar se os alunos saberiam apontar elementos do passado que podem estar relacionados a essas práticas ilícitas que permanecem em nossa sociedade. Também é possível indicar elementos históricos relacionados a temática dos direitos humanos que está citada na reportagem. Apontar que o Brasil é signatário, desde 1948, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que assim como a Constituição Federal de 1988 proíbem a tortura e a tratam como crime inafiançável. Um elemento muito importante nessa discussão é possibilitar aos estudantes que percebam que problemas presentes na sociedade possuem historicidade e que a ampliação da compreensão a respeito de certos elementos do passado pode auxiliar na compreensão de problemas a serem enfrentados no presente. As duas perguntas que estão no título dessa aula devem estabelecer uma espécie de fio condutor do pensamento histórico. OBS.: O texto da reportagem está em doc e em pdf.
Seminário em grupo (alunos)
45 min
A proposta nessa etapa da aula é que o professor divida a turma em grupos para o trabalho com as fontes históricas. Há três textos relacionados e um vídeo do YouTube. Todas as fontes possibilitam a relação entre o passado ditatorial brasileiro e os momentos da história mais recente. Essa etapa da aula tem dois objetivos principais: o primeiro está relacionado a capacidade de leitura e interpretação de texto (ou mesmo do vídeo) e a capacidade de síntese das ideias principais; o segundo objetivo é a ampliação de elementos relacionados ao passado recente e ao passado ligado ao período ditatorial (1964 - 1985). O docente pode propor um roteiro de análise da fonte para os estudantes, algo que ajude a organizar a leitura (análise e interpretação da fonte), assim como a sistematização para a apresentação na forma de seminário para os outros grupos da turma. A ideia central é que todos os grupos possam conhecer as ideias apresentadas e defendidas em cada uma das fontes. Em cada um dos textos há ligações entre o passado e o presente, assim como o trabalho com determinados conceitos. No video o professor Vladimir Safatle apresenta os conceitos "Necro-política" e "Necro-Estado"; no texto escrito pelo mesmo professor ele tece críticas ao processo de redemocratização do Brasil, à lei de anistia (1979) e aos elementos de permanência da ditadura no Brasil contemporâneo. No texto intitulado "Poder desaparecedor" há uma relação entre a prática da ocultação de cadáveres no passado e no presente em relação ao caso "Amarildo" citado no texto. Por fim, no texto "Direito versus democracia" há uma série de elementos históricos discutidos que passam pela temática dos direitos humanos, por comparações entre as ditaduras da América Latina, pela diferença nas comissões da verdade do Brasil e de outros países. Todas as fontes permitem um diálogo entre elementos presentes na cultura histórica atual e que podem estar presentes nas ideias dos estudantes, por exemplo, ideias como a que a "ditadura no Brasil não foi violenta como em outros países". Nesse sentido, entrar em contato com informações relacionadas ao estado de coisas do período ditatorial, número de mortos, processos, entre outros dados, ampliará a compreensão dos estudantes a respeito da ditadura, assim como poderá fazer com que percebam outros problemas do presente na sociedade brasileira.
Atividade a ser realizada em casa pelos alunos (lição de casa)
25 min
O docente pode retomar a canção "Amarildo" e propor aos estudantes que realizem pesquisas sobre elementos que aparecem na canção e que tragam para a discussão na próxima aula. Há uma série de frases que aparecem na canção e que podem ser relacionadas a conflitos da sociedade contemporânea. Vejamos: "Tolerância zero, leis mais duras, pena de morte / Filmes que legitimam a tortura / Fim dos direitos humanos / Elogios à Ditadura, / castração química / Direito do inimigo, lei antiterrorismo / O bom bandido é o bandido morto / Diminuição da maioridade penal / Amarildo e muitos outros Um pequeno efeito colateral? / Sim, um comentário à parte / Um povo que se sente seguro / Mandando prender suas crianças É um povo covarde / Me diz uma coisa, você realmente se indignou Quando anunciaram que os moradores de rua estão sendo exterminados? Ou no fundo, lá no fundo, Você se sentiu um pouco mais seguro?" Esses trechos remetem a elementos que ocorreram no Brasil em períodos recentes da nossa história e que evidenciam uma série de conflitos da sociedade. A canção indaga por trás desses elementos a seguinte questão: "Onde está você?". Essa questão pode se referir a pergunta "Onde está o Amarildo?", assim como pode ser uma cobrança de posicionamento do ouvinte em relação a essas temáticas. Além disso a música oferece uma outra questão bastante contemporânea e que aparece no vídeo da fala do professor Vladimir Safatle (sobre a polícia militar e a possível desmilitarização - citado entre as fontes da etapa anterior). Todos esses assuntos podem ser objeto de debate. É importante que o docente defina com os estudantes os assuntos a serem pesquisados e a forma de participação no debate. a definição de regras auxiliam a definição de temas, evita que se perca o foco da discussão, mas principalmente a aprendizagem sobre o respeito as ideias dos outros e no desenvolvimento de uma cultura democrática e de participação dos estudantes. Há alguns links de reportagens que podem ser analisados pelos estudantes (fica como sugestão).
Exposição Oral por parte do professor
20 min
De maneira opcional e complementar na quarta etapa da aula, o docente pode fazer uma exposição sobre o caso da estilista Zuzu Angel. Assim como pode fazê-lo a partir uma outra escuta de canção com a obra "Angélica" (Chico Buarque - Miltinho, MPB4). A canção de 1978 trata de uma história relacionada ao período ditatorial que envolve tortura e morte, assim como desaparecimento de cadáver. Ela possibilita uma exposição por parte do docente que alinhave as discussões presentes nas fontes anteriores (principalmente os textos e o vídeo da etapa 4). Esse arremate na discussão por parte do professor pode auxiliar na compreensão dos estudantes e orientar alguns sentidos de interpretação das discussões realizadas até o momento. Há sugestões de links com fontes ara embasar essa exposição.
Referências
CERRI, Luis Fernando & AMÉZOLA, Gonçalo. Jovens diante da história: ensino, aprendizagem e consciência histórica de jovens no Brasil e na Argentina. Associação Nacional de História – ANPUH XXIV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA - 2007 RÜSEN, Jörn.(2012). Aprendizagem histórica: fundamentos e paradigmas. Curitiba: W.A. Editores, 2012. SADDI, Rafael. Didática da História enquanto sub-disciplina da Ciência Histórica. História & Ensino, Londrina, v. 16, n. 1, p. 61-80, 2010. SCHMIDT, M.A.M.S. A CULTURA COMO REFERÊNCIA PARA INVESTIGAÇÃO SOBRE CONSCIÊNCIA HISTÓRICA: DIÁLOGOS ENTRE PAULO FREIRE E JÖRN RÜSEN. Atas das XI Jornadas Internacionais de Educação Histórica Realizadas de 15 a 18 de Julho de 2011, Instituto de Educação da Universidade do Minho / Museu D. Diogo de Sousa, Braga. Páginas consultadas: http://memoriasdaditadura.org.br/biografias-da-resistencia/zuzu-angel/ (acesso em 04/12/2019) https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45106/ (acesso em 04/12/2019) https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44790123 (acesso em 04/12/2019) http://web.archive.org/web/20160806142525/http://revistadehistoria.com.br/secao/capa/como-perpetuar-uma-ditadura (acesso em 04/12/2019) http://web.archive.org/web/20160806140248/http://revistadehistoria.com.br/secao/capa/direito-versus-democracia (acesso em 04/12/2019) http://web.archive.org/web/20160806134504/http://revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/poder-desaparecedor (acesso em 04/12/2019)