Músicas como ferramentas didáticas para entender o regime militar no Brasil (1964-1985), a censura e as formas de resistência

por Antônio Barros de Aguiar

Plano elaborado para 3 aulas

135 min

Utilizar e analisar as músicas (ritmo, harmonia e letra) que foram produzidas durante a época da ditadura civil-miliar no Brasil (1964-1985) no 9 Ano do Ensino Fundamental. Assim, busca-se entender a música popular como instrumento de denúncia e resistência ao regime político em questão a partir das canções "Cálice" (1978), de Chico Buarque e "Alegria, Alegria" (1968), de Caetano Veloso.

CURSO: A Canção Popular no Ensino de História

Objetivos

Trabalhar as músicas de protesto, crítica social e política a partir do contexto histórico-social em que foram produzidas (1964-1985), tendo também os jornais no estudo da ditadura civil-militar no Brasil. Podemos também interagir com a disciplina de língua portuguesa para entender as metáforas e jogos de palavras das letras das canções e abordar temas transversais, como cidadania e direitos humanos.

Requisitos

A atividade proposta para três aulas de 45 minutos, tendo caixa de som, data show e notebook como recursos didáticos.

Avaliação

A avaliação será a análise e interpretação das músicas "Cálice" (1978) e "Alegria, Alegria" (1968), considerando o contexto de sua produção, ritmo, harmonia e letra através de um debate mediado pelo professor, no qual os alunos se expressarão de forma crítica sobre aquelas canções.

Lista de atividades

Exposição Oral por parte do professor

45 min

Apresentar brevemente o contexto histórico da ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985), fazendo uso de jornais e imagens da época para que os alunos possam entender melhor esse momento histórico do qual as canções participam. A ideia não é trabalhar todos os governos militares de forma detalhada, mas sim abordar os Atos Institucionais, a não liberdade de expressão, as perseguições, as torturas, o exílio, a censura, enfim, a violação dos direitos humanos e a ameaça à democracia.

Vídeo/Música/Imagem

45 min

Trabalhar as músicas "Cálice" e "Alegria, Alegria", considerando ritmo, harmonia e letra. Nesta aula, chamar a atenção dos alunos para os processos de escuta e observação. Além disso, compreender os enlaces entre melodia e letra, percebendo a potência vocal e a entoação da voz. Aqui busca-se também a contextualização das canções: quem as produziu, como foram difundidas, quem as consumiu, que mensagem expressam, se foram censuradas.

Atividade oral envolvendo a classe (perguntas/respostas/debate)

45 min

Nesta aula, temos a proposta de avaliação que se refere à participação dos alunos no debate mediado pelo professor sobre as canções "Cálice" e "Alegria, Alegria". Aqui os alunos farão a crítica interna das canções com informações sobre a linguagem musical e a abordagem temática, com a análise das letras, podendo intercalar com as aulas de língua portuguesa para interpretar melhor os conteúdos delas a partir do contexto sócio-histórico de suas produções. Desse modo, compreender que mesmo sem liberdade de expressão, os compositores inventaram códigos, metáforas e jogos de palavras para se comunicar com o público brasileiro ao mesmo tempo em que contestavam o regime militar. Então, a ideia central é propor um debate (envolvendo perguntas e respostas) entre os alunos para que eles possam entender que, apesar da censura, da perseguição e do exílio que esses músicos tiveram que encarar, suas produções continuam sendo marcos na história e na cultura nacionais.

No debate, chamar a atenção dos alunos para as metáforas e a entonação das palavras pelos cantores, como, por exemplo, o cálice da canção de Chico Buarque que estaria repleto do sangue daqueles que foram torturados e mortos pelos governos autoritários e violentos daquele regime. Por outro lado, perceber semelhança entre as palavras "cálice" (cantada num tom forte) e "cale-se" , referem-se à opressão e o silenciamento, isto é, a não liberdade de expressão dos artistas e do cidadão brasileiro.

Compreender que Caetano falava em caminhar "contra o vento", referindo-se caminhar contra a direção para a qual estava sendo empurrado durante a ditadura civil-militar. É nesse sentido que os jovens estudantes também poderão assumir o papel de interpretes, podendo revelar aquilo que os compositores não deram conta quando produziram as canções durante aquela época.


Referências

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NAPOLITANO, Marcos Francisco; AMARAL, Maria Cecília; BORJA, Wagne Cafagne. Linguagem e canção: uma proposta para o ensino de História. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 7, n 13, p. 177-188, 1987.

NAPOLITANO, Marcos. A MPB sob suspeita: a censura musical vista pela ótica dos serviços de vigilância política (1968-1981). Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 24, nº 47, p.103-126 - 2004.

RIBEIRO, Renilson Rosa. Fazer história: a importância de ler, interpretar e escrever em sala. Curitiba: Appris, 2018.

TATIT, Luiz. Elementos para a análise da canção popular. Cadernos de semiótica aplicada,São Paulo, vol. 1, n 2, p. 01-18, 2003.

XAVIER, Erica da Silva. O uso das fontes históricas como ferramentas na produção de conhecimento histórico: a canção como mediador. Antíteses, vol. 3, n. 6, jul.-dez. de 2010, pp. 1097-1112.