O samba malandro e a resistência ao trabalhismo de Vargas

por Nestor Mendonça Tsu

Plano elaborado para 4 aulas

180 min

No Estado Novo (1937-1945), o governo ditatorial tentou criar uma mentalidade que valorizava o trabalho. Através do DIP, incentivou a criação de sambas que promoviam o Trabalhismo. Nem todos aceitaram o discurso oficial e criaram sambas que denunciavam as agruras do trabalho. Esse plano de aula foca o 9º Ano e busca analisar as tensões entre o Trabalhismo e as microrresistências a essa ideologia.

CURSO: A Canção Popular no Ensino de História

Objetivos

A ideia deste trabalho é discutirmos as formas com que a música foi instrumento tanto para questionar um discurso oficial – no caso o de valorização do trabalho e do ufanismo – e, assim, foi resistência, quanto para capilarizar os discursos oficiais na população. A partir dessa discussão, pretendemos chamar atenção para as tensões entre o discurso oficial e vozes dissonantes que o negavam, bem como para as microrresistências cotidianas.

Requisitos

Televisão com entrada USB; cópias das letras das músicas para os alunos; caixas de CDs, CDs graváveis; sulfite 40; lápis de cor; canetinhas.

Conhecimentos prévios necessários: conceito de ditadura e propaganda; Revolução de 30; Plano Cohen e o início do Estado Novo; trabalhismo; fascismo.

Avaliação

A avaliação desta proposta foi feita durante as exposições dos debates indicados e demonstrou que, apesar das dificuldades em analisar e interpretar as músicas - em especial os arranjos - os alunos conseguiram atingir as expectativas deste trabalho.

Os encartes indicaram uma boa compreensão do tema trabalhado.

Lista de atividades

Exposição Oral por parte do professor

20 min

Este momento se destina à apresentação da proposta de trabalho. O professor deverá expor à turma o Roteiro Previsto de Aulas abaixo:

1. Aulas introdutórias: apresentação do roteiro de atividades e do conteúdo;

2. análise de Sambas apoiados pelo DIP;

3. análise de sambas malandro;

4. atividade avaliativa.

É importante ressaltar para a turma que a duração do Plano pode ser alterado em decorrência da dinâmica das discussões. Depois dessa apresentação, o professor deverá expor o tema deste Plano de Aulas.

Tema: As próximas aulas trabalharão com os mecanismos de construção do trabalhismo sob o Estado Novo (1937-1945) bem como resistências a essa ideologia.


Leitura de texto em sala de aula

10 min

O professor deverá apresentar ao grupo da maneira que achar mais pertinente – exposição oral, cópias do texto para leitura individual ou leitura coletiva – o trecho a seguir:

Em 1937, o Plano Cohen foi apresentado para a população brasileira. Ele detalhava um plano de tomada de poder por parte dos comunistas. Era um plano forjado que foi usado como desculpa por Vargas para decretar estado de guerra e iniciar sua ditadura. Em 1939, foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) em substituição ao Departamento Nacional de Propaganda (DNP). Ao DIP cabia a censura e a promoção da imagem de Vargas, de maneira semelhante a outros regimes fascistas do período, em que a imagem do ditador era cultuada.


Atividade oral envolvendo a classe (perguntas/respostas/debate)

20 min

O professor deverá propor um debate com a turma acerca da importância e do valor dado ao trabalho. Sugestões de perguntas para orientar o debate:

• Qual o significado do trabalho para uma pessoa?

• O valor atribuído a um indivíduo está relacionado à sua profissão?

• De quais maneiras o trabalho afeta a vida de um indivíduo e de sua família?


Exposição Oral por parte do professor

10 min

(continuação da atividade anterior)

Após esse momento inicial, o professor deve colocar o seguinte questionamento: há relação entre o discurso oficial – como exposto em propagandas e legislação – e o significado do trabalho para cada indivíduo? A partir desse questionamento, deve ser exposto ao grupo os esforços realizados pela ditadura estadonovista, através do DIP, para que o trabalhismo se tornasse uma ideologia predominante. A ideia não é encerrar a discussão, apenas apontar algumas possibilidades. Não é o caso aqui discutir a relação entre discurso oficial e mentalidades. Basta constatar que há tentativas de influenciá-las por parte do Estado Novo.

O trecho e fontes abaixo podem servir de subsídio:

Uma das características do Estado Novo foi a difusão de um culto ao trabalho. A Constituição de 1937 igualava trabalho a dever social no artigo 136 e no artigo 139 afirmava que greves e lock outs eram prejudiciais à sociedade e à produção. Em 1939, o Estado Novo se apodera do 1º de Maio, data já usada por movimentos trabalhistas havia décadas para lutar por melhores condições, e o transforma num dia de festa em que o presidente falaria diretamente com os trabalhadores. Aprofunda-se uma ideologia que equipara trabalho a valor de tal maneira que incorporou-se à identidade do indivíduo a profissão que ele exerce.

Leitura de texto em sala de aula

10 min

O professor deverá apresentar o trecho abaixo como introdução ao trabalho com os Sambas com apoio do DIP (mais uma vez, a apresentação do trecho pode ser feita como o professor considerar mais pertinente):

Como parte do culto ao trabalho, o DIP fecha o cerco sobre o samba que tem por mote a crítica ao trabalho. Ao mesmo tempo em que tentava censurar os sambas-malandro, o DIP influenciava sambistas a comporem músicas mais de acordo com a ideologia oficial estadonovista. Os sambistas que cederam às tentações – seja por interesse ou por concordar com as ideias de Vargas – compuseram músicas que elogiavam o ditador e buscavam incutir um sentimento nacionalista e uma apreciação do trabalho em si. Entre as músicas que fazem um elogio do trabalho – e, portanto, recebem o aval do DIP – está O bonde de São Januário, composta por Ataulfo Alves e Wilson Batista em 1940, e Trabalha, composta por Roberto Roberti e Pedro Camargo em 1944.


Vídeo/Música/Imagem

10 min

Após a apresentação do trecho indicado na atividade anterior, o professor deverá entregar as letras para a turma e tocar as músicas.

Atividade oral envolvendo a classe (perguntas/respostas/debate)

20 min

Após a escuta, o professor deve pedir para a turma analisar as canções, elencando elementos em comum. A análise das letras pode ser feita a partir das perguntas abaixo:

• Qual o tema das músicas?

• De que maneira essas músicas estão de acordo com a agenda do DIP?

Sugiro que a discussão das músicas seja feito em dois momentos: num primeiro, a turma deve ser dividida em grupos menores de 2-3 pessoas que devem colocar suas conclusões por escrito. Num segundo momento, os grupos deverão compartilhar suas conclusões.


Leitura de texto em sala de aula

10 min

O professor deverá apresentar ao grupo o trecho abaixo:

Nem todos estavam dispostos a ecoar o discurso estadonovista. Não foram poucos os sambas que denunciavam as agruras e sofrimentos causados pelo trabalho. Apesar da censura, várias composições chegaram aos ouvidos e gosto popular nas vozes de Dircinha Batista, Aurora Miranda, Ciro Monteiro entre outros. Essas músicas iam na contramão do culto ao trabalho denunciando os problemas causados pela labuta na vida do povo. Desde o sofrimento da mulher que era obrigada a trabalhar pelo companheiro até o homem que perde sua família por não ter tempo para ela.

Em seguida, deverá indicar à turma as perguntas para análise das letras das músicas:

• Qual o tema da música?

• Quais os efeitos do trabalho na vida das personagens?

• Por que podemos afirmar que essas músicas vão na contramão do discurso oficial do DIP?


Vídeo/Música/Imagem

15 min

Escuta dos sambas-malandro para posterior análise e debates

Atividade oral envolvendo a classe (perguntas/respostas/debate)

25 min

Após a escuta dos sambas, sugiro uma discussão em dois momentos: num primeiro, a turma deve ser dividida em grupos menores de 2-3 pessoas que devem colocar suas conclusões por escrito. Num segundo momento, os grupos deverão compartilhar suas conclusões.


Atividade a ser realizada em casa pelos alunos (lição de casa)

30 min

A avaliação deste trabalho será a produção de um encarte de CD. A turma deve se dividir em grupos de até 4 pessoas. Cada grupo receberá o CD com as músicas gravadas e as caixas de CD e deverão produzir um livreto que contenha:

• as letras das músicas, o ano de sua composição e autoria;

• um pequeno texto explicando o momento histórico e sua relação com as músicas.

A capa do livreto deve ter um desenho relacionado aos temas trabalhados e o título escolhido pelo grupo para a coletânea.

No verso da caixa, os grupos deverão colocar a sequência das músicas e tempos de duração de cada uma delas.

Com este trabalho, os grupos devem demonstrar compreensão do conteúdo trabalhado; capacidade de analisar as letras das músicas e estabelecer relação entre as letras e a época em que elas foram produzidas.


Referências

MARTINS, Franklin. Quem foi que inventou o Brasil: A música popular conta a história da República. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. 3v.

PARANHOS, Adalberto. “Os desafinados do samba na cadência do Estado Novo”. In: Nossa história, v. 1, n. 4, p. 16–22, fev. 2004.

___________________. Além das amélias: música popular e relações de gênero sob o “Estado Novo”. In: Espaço Acadêmico, n. 77, out. 2007.

SEVERIANO, Jairo. Uma história da música popular brasileira: Das origens à modernidade. São Paulo: Editora 34, 2013.

SITES

https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/GolpeEstadoNovo/PlanoCohen, acesso em 09/01/2020

http://memorialdademocracia.com.br/card/plano-cohen-falsificacao-para-legitimar-ditadura, acesso em 09/01/2020

https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/PrimeiroMaio, acesso em 09/01/2020