Primavera nos dentes em três tempos: uma canção como ferramenta pedagógica para estabelecer diálogos entre diferentes tempos históricos

por Rodolfo Cesar Mendes De Almeida

Plano elaborado para 3 aulas

150 min

Este plano de aula foi pensado para ser trabalhado com turmas da 3ª série do Ensino Médio. A proposta é partir da canção "Primavera nos dentes" para estabelecer diálogos entre três contextos históricos distintos: a ditadura salazarista em Portugal; a ditadura civil-militar no Brasil; e o tempo presente.

CURSO: A Canção Popular no Ensino de História

Objetivos

Desenvolver uma análise da canção "Primavera nos dentes", explorando sua multiplicidade de significados e leituras possíveis;

Estabelecer conexões entre a canção "Primavera nos dentes" e o contexto da ditadura salazarista em Portugal;

Compreender aspectos básicos da resistência à ditadura salazarista em Portugal;

Estabelecer conexões entre a canção "Primavera nos dentes" e o contexto da ditadura civil-militar no Brasil;

Compreender aspectos básicos da resistência à ditadura civil-militar no Brasil;

Estabelecer conexões entre a canção "Primavera nos dentes" e o tempo presente;

Desenvolver uma análise histórico-pedagógica capaz de estabelecer diálogos significativos entre diferentes tempos e contextos.

Requisitos

Materiais: Datashow, notebook e caixa de som; lousa; impressões em papel A4.

Pedagógicos: é recomendado que as temáticas do nazi-fascismo (salazarismo incluso), do governo João Goulart, do golpe de 1964 e dos primeiros anos da ditadura civil-militar brasileira já tenham sido trabalhadas em aulas anteriores.

Duração: mínimo de três aulas de 50 minutos.

Avaliação

A avaliação do plano de aula ocorrerá em diversos momentos durante a execução do mesmo. A participação e o envolvimento nos momentos de troca de informações e debates é uma primeira forma de avaliar as atividades durante seu processo de desenvolvimento. Além disso, as produções textuais requisitadas nas atividades 5 e 6 serão avaliadas pelo professor, para, em momento posterior (atividade 7), ser possível fornecer uma devolutiva aos alunos, talvez com uma possibilidade de retomada das produções textuais.

Lista de atividades

Vídeo/Música/Imagem

10 min

A primeira atividade consistirá na audição da canção "Primavera nos dentes" (1973), do grupo Secos & Molhados. A canção será ouvida uma primeira vez, sem que os alunos tenham acesso prévio à letra. Na segunda audição, os alunos acompanharão a letra projetada no datashow ou escrita na lousa.

Atividade oral envolvendo a classe (perguntas/respostas/debate)

10 min

Depois das duas audições, será feito um breve apanhado geral de impressões dos alunos, direcionadas pelo professor para três aspectos: o aspecto da sonoridade da canção; o aspecto da letra da canção; o aspecto da junção entre sonoridade e letra. As impressões dos alunos podem ser sintetizadas pelo professor em tópicos na lousa.


Exposição Oral por parte do professor

15 min

A partir dos elementos destacados pelos alunos (e sintetizados pelo professor) na atividade anterior, o professor direcionará seus comentários para abordar as relações possíveis da canção com dois contextos distintos: a ditadura salazarista em Portugal e a ditadura civil-militar no Brasil. Serão enfatizados os fatos de que o poema que compõe a letra da canção foi escrito pelo poeta João Apolinário no contexto da ditadura salazarista em Portugal e que a gravação da canção, com o consequente arranjo musical do poema, foi feita durante a ditadura civil-militar no Brasil. Se possível, aproveitar esses momentos de exposição oral para projetar e discutir imagens relacionadas aos contextos abordados, destacando aspectos ligados aos processos de resistência.


Leitura de texto em sala de aula

15 min

Entregar para os alunos uma folha impressa de papel A4 na qual constarão dois textos. Primeiro, um trecho (adaptado) do artigo acadêmico "'Mais flores, mais flores, mais flores': a estrutura de sociabilidade de João Apolinário e dos subversivos da Cidade do Porto (1955-1963)", de autoria de Thales Reis Alecrim. Segundo, um trecho (adaptado) do artigo acadêmico "Secos & Molhados: metáfora, ambivalência e performance", de autoria de José Roberto Zan. Somados, os dois trechos não ocuparão mais do que uma folha de papel A4 (considerando uma formatação padrão, qual seja, fonte Times ou Arial, tamanho 12, sem espaçamento ou com espaçamento 1,15). A proposta é que os textos sejam lidos de forma compartilhada entre professor e alunos, destacando após cada parágrafo ou após o €final da leitura elementos que chamaram a atenção ou que geraram dúvidas (inclusive, dúvidas de vocabulário).

Atividade a ser realizada em casa pelos alunos (lição de casa)

5 min

A partir do conteúdo trabalhado nas atividades 1, 2, 3 e 4, o professor disponibilizará, na lousa ou projetadas pelo datashow, no mínimo quatro questões, como lição de casa, para reflexão e escrita individual, que poderão ser realizadas pelos alunos em seus próprios cadernos, sem a necessidade de entregar em folha separada. Esses questões estarão focadas no conteúdo desenvolvido durante a leitura realizada na atividade 4, tendo como complemento necessário elementos trabalhados durante a atividade 3. Para resolver estas questões, espera-se que os alunos mobilizem seus conhecimentos relacionando-os com a audição/leitura inicial que €fizeram da canção "Primavera nos dentes" (atividades 1 e 2).

As questões sugeridas são as seguintes:

1. Explique qual era a relação de João Apolinário com o governo salazarista em Portugal. De quais maneiras essa relação influenciou a produção poética de Apolinário?

2. Por que o poema-música “Primavera nos dentes” pode ser interpretado tanto como uma crítica ao salazarismo quanto como uma crítica à ditadura civil-militar brasileira?

3. Explique algumas características do contexto histórico em que o grupo Secos & Molhados foi formado.

4. Escreva um texto curto (mínimo: 7 linhas) em que comente como músicas, poemas e outras formas de arte podem contribuir para resistência em contextos autoritários.


Produção escrita em grupo (alunos)

45 min

Assim que as questões para lição de casa forem anotadas, será proposto um exercício de análise e escrita coletiva. Será requisitado aos alunos que se dividam em grupos com, no máximo, 4 componentes cada um. A canção "Primavera nos dentes" será ouvida novamente, a letra €cará projetada pelo datashow ou escrita na lousa. Será requisitado que cada grupo realize uma produção textual em que aborde e/ou desenvolva: 1. Como os elementos sonoros da canção podem ser interpretados levando em consideração seu contexto de produção. 2. Como os elementos sonoros da canção se relacionam com os elementos textuais da canção. 3. Uma reflexão e análise de cada verso do poema que compõe a canção, procurando relacionar o significado de cada verso com os dois contextos destacados durante a aula: a ditadura salazarista em Portugal e a ditadura civil-militar no Brasil. 4. Selecionar ao menos dois versos do poema que compõe a canção e relacioná-los com aspectos do tempos presente. As respostas de cada grupo para esses questionamentos serão entregues em folha separada para o professor no final da atividade.

Exposição Oral por parte do professor

25 min

Se considerarmos que as atividades 1 até 6 ocuparam o tempo de duas aulas, cada uma com 50 minutos, esta atividade ocorrerá em outro momento (possivelmente na semana seguinte à realização das atividades 1-6). O professor entregará para os grupos a atividade 6 corrigida e fará comentários gerais e específicos dependendo de cada caso. Talvez seja necessário requisitar que os grupos realizem uma reescrita de parte de sua produção textual. Essa reescrita (parcial) será no final da aula entregue para o professor. Enquanto os grupos verificam a devolutiva da atividade 6 e, dependendo do caso, procedem com a reescrita, o professor verificará a lição de casa requisitada na atividade 5.


Atividade oral envolvendo a classe (perguntas/respostas/debate)

25 min

Por fim, novamente será ouvida a canção "Primavera nos dentes" e será feito um debate coletivo com a classe tendo como base as questões que direcionaram a atividade 6. Todo grupo terá seu momento de fala para uma questão ou parte de uma questão. Este momento será essencial para fortalecer e consolidar os objetivos estabelecidos para o Plano de Aula. Para tanto é fundamental estar atento para as falas dos alunos e buscar, a partir delas, articular os conhecimentos trabalhados nas atividades anteriores com uma possível síntese, estabelecendo diálogos, possibilitados pelo trabalho com a canção "Primavera nos dentes", entre o tempo presente dos alunos e diferentes tempos passados.

Referências

ABUD, Katia Maria. Registro e representação do cotidiano a música popular na aula de história. Caderno Cedes, Campinas, vol. 25, n. 67, set./dez. 2005, p. 309-317.

ALECRIM, Thales Reis. "Mais flores, mais flores, mais flores": a estrutura de sociabilidade de João Apolinário e dos subversivos da Cidade do Porto (1955-1963). Revista de História da UEG, Porangatu, v. 8, n. 1, jan./jun. 2019, e-811915,

p. 1-22. Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/revistahistoria/article/view/9033

DAVID, Célia Maria . Música e Ensino de História: uma proposta. In: Conteúdos e Didática de História. Disponível em: https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/46189/1/01d21t06.pdf.

NAPOLITANO, Marcos. A MPB sob suspeita: a censura musical vista pela ótica dos serviços de vigilância política (1968-1981). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24, n. 47, 2004, p. 103-126. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbh/v24n47/a05v2447.pdf

NAPOLITANO, Marcos. História e Música Popular: um mapa de leituras e questões. In: Revista de História. Nº 157 (2º semestre de 2007), p. 153-171. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/19066

RIDENTI, Marcelo. Artistas e intelectuais no Brasil pós-1960. São Paulo, Tempo Social: revista de sociologia da USP, v. 17, n. 1, jun. 2005, p. 81-110.

ZAN, José Roberto. Secos & Molhados: metáfora, ambivalência e performance. ArtCultura, Uberlândia, v. 15, n. 27, jul./dez. 2013, p. 7-27. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/artcultura/article/view/29331