Propaganda Política, Censura e Repressão na Segunda República do Brasil

por Manoel Oliveira

Plano elaborado para 4 aulas

180 min

A atividade a ser realizada procura tratar da propaganda política, censura e repressão na Segunda República do Brasil e de como o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) criado em 1939 agiu durante o governo varguista. Para isso, serão analisados os sambas “Sete e meia da manhã” (1945), cantado por Dircinha Batista e “Não admito” (1942), cantado por Aurora Miranda, na década de 1940.

CURSO: A Canção Popular no Ensino de História

Objetivos

Objetivos Gerais: O presente plano de aula pretende possibilitar o pensamento histórico do Brasil Republicano a partir da análise de obras artístico-culturais, no qual o aluno irá lidar com aspectos sociopolíticos relacionados à formação da nação. Desse modo, planeja-se desenvolver o sujeito do pensamento histórico de tal forma que seja possibilitado a ele a auto-reflexão, interpretação e percepção da produção histórica. Além disso, a partir do modelo de aula-oficina (BARCA, 2004), pretende-se que o discente associe o conhecimento histórico com a sua vida prática, a vivência cotidiana, seus contatos pessoais, amigos e sua interação com a mídia (ABUD, 2005).

Pensando nisso, o desenvolvimento das aulas caminha em direção a possibilitar essa operação mental ao estudante secundarista, que ao ter contato com produções artísticas do século passado e da contemporaneidade possa entender como tais representações artísticas são capazes de proporcionar um conhecimento histórico que passa pelo crivo da ciência histórica. Com isso, pretende-se que, através de obras musicais, possa haver um debate mais conciso acerca da realidade brasileira, e que, ao oferecer um olhar mais atento aos estudantes para a nossa História, estes possam se reconhecer como agentes da sua própria formação, no sentido de valorizarem suas próprias experiências como um importante início no processo da aprendizagem histórica e, além disso, saibam incorporar a história na tomada de suas ações práticas, pensando historicamente.

Objetivos Específicos: A partir da análise dos sambas malandros “Sete e meia da manhã” (1945) cantado por Dircinha Batista e “Não admito” (1942) cantado por Aurora Miranda, espera-se que o aluno compreenda qual foi o papel do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) enquanto ferramenta de busca por apoio popular através do enaltecimento do poder que visava criar o homem novo, a sociedade nova e o país novo, procurando estabelecer uma identidade nacional e coletiva e a unidade nacional. Com isso, almeja-se que o estudante visualize como a cultura fora influenciada pelo varguismo através de um suporte político que legitimaria a articulação entre cultura, política e propaganda, tendo no artista função essencial para a unificação nacional. (CAPELATO, 2003, p. 125).

Requisitos

Este plano se baseia na aula-oficina de Isabel Barca, que consiste em uma sequência didática com conteúdos e avaliação, no qual professor e aluno constroem juntos o conhecimento histórico. Portanto, este plano se difere da aula-conferência, no qual o professor é detentor do conhecimento. Público: 3º ano do E.M; Material: aparelho de som e impressão ou projeção da letra das duas canções utilizadas.

Avaliação

Os alunos deverão apreender e compreender sobre a análise de fonte histórica. Portanto, essa compreensão deve ser avaliada através do trabalho feito em grupo. Caso os alunos tenham cumprido com a metodologia de análise proposta pelo professor durante as aulas e seguido o modelo de aula-oficina na construção do conhecimento histórico, o professor considerará que o processo de análise de fonte histórica foi cumprido. Assim, a partir dessa metodologia de análise (visto que sem ela não é possível cumprir os critérios avaliativos), os critérios para obtenção da nota serão: historicização do autor e obra, análise do contexto de produção, correta interpretação do texto da letra da música e de seu arranjo (análise fonográfica) e percepção sociopolítica da fonte sobre o presente. Desse modo, a atividade avaliativa consiste no trabalho em grupo a ser entregue na próxima aula e na atuação dos alunos durante as aulas, no qual debaterão oralmente ou de forma escrita sobre as questões levantadas pelo professor.

Lista de atividades

Produção escrita individual (alunos)

45 min

O primeiro passo da atividade é fazer um levantamento prévio do conhecimento dos alunos através de narrativas escritas sobre a temática estudada. Essa atividade servirá apenas de parâmetro ao professor para preparar as demais aulas. Desse modo, o professor deverá ler, após o término da aula, a produção dos alunos e, a partir de sua apreciação sobre as narrativas, preparar as demais aulas. Os alunos serão avaliados nesta narrativa, mas sem sistema de nota. Portanto, essa primeira aula servirá apenas para o docente saber o que os alunos conhecem/sabem de propaganda política, censura e repressão.


Vídeo/Música/Imagem

45 min

Levando em conta que para essa aula o professor já terá levantado o conhecimento prévio dos educandos, este deverá apresentar aos discentes o contexto de produção dos Sambas e, a partir disso, levantar aos seus alunos informações sobre os artistas selecionados e suas intérpretes. Logo, a partir disso, deverá ser feito pelos alunos e professor um processo de apreensão e historicização da fonte a ser trabalhada, no qual será possível dizer quem eram seus autores e intérpretes e em quais circunstâncias históricas as canções foram compostas, ou seja, a partir desse momento será possível tratar melhor as temáticas levantadas na primeira aula, que são “Propaganda Política”, “Censura” e “Repressão”. Posteriormente, o professor irá apresentar por meio multimídia os Sambas Sete e meia da manhã” (1945), cantado por Dircinha Batista e “Não admito” (1942), cantado por Aurora Miranda, na década de 1940. Essa execução das canções deve integrar uma prévia análise fonográfica (ritmos, andamento, pausas) do discurso das canções, portanto o professor deverá fazê-la e reproduzir as canções pelo menos duas vezes.

Obs.: A atividade será somente com música (não teremos vídeo e nem imagem). Essa caixa foi selecionada porque não existe outra caixa que inclua apenas a palavra música.

Atividade oral envolvendo a classe (perguntas/respostas/debate)

45 min

Após os alunos terem escutado os Sambas a serem trabalhados em sala de aula, o professor da disciplina deverá dar início a análise da letra, buscando identificar através do olhar fonográfico determinados pontos: a representatividade do artista e por quem ele fala; quais são os elementos que caracterizam a vida cotidiana e a paisagem sociopolítica do momento histórico retratado, quais são os aspectos identificados na composição que possam ser comparados com outras composições ou acontecimentos atuais e as possíveis contraposições de ideias que possam aparecer em relação ao conteúdo apresentado anteriormente e/ou em relação ao conhecimento prévio dos discentes. Assim, os alunos deverão contribuir constantemente com suas interpretações e análises acerca de cada uma das letras trabalhadas, ou seja, o professor deverá valorizar durante a aula inteira uma roda de conversa e/ou outras atividades de inserção conforme a necessidade. A isso damos o nome de aula-oficina, pois é uma construção conjunta do conhecimento histórico. Essa roda de conversa deve ser direcionada as questões levantadas pelo professor e pelas narrativas dos alunos produzidas nas primeiras aulas. Portanto, o professor deve avaliar a participação dos alunos (dar pontos extras), anotando os nomes que estão contribuindo com a aula. Caso alguns alunos prefiram, poderão fazer esse diálogo de forma escrita para os demais, no qual o professor irá ler as questões levantadas por estes alunos.

Compreende-se com isso que diante da fonte os agentes históricos procurarão “analisar fatos que já foram anteriormente articulados na linguagem ou então, com a ajuda de hipóteses e métodos, reconstruir fatos que ainda não chegaram a ser articulados” (KOSELLECK, 2006, p. 305). Essa fundamentação implica ao tratamento do tempo histórico que passado e futuro sejam entrelaçados (KOSELLECK, 2006, p. 308), o que direciona o envolvimento dos processos de aprendizagem cuja história assume uma função didática de orientação (RÜSEN, 2001, p. 48-51).


Atividade a ser realizada em casa pelos alunos (lição de casa)

45 min

Levando em considerações o processo de aula-oficina utilizado em sala, o professor deverá pedir aos discentes que realizem a análise fonográfica de uma música ou canção produzida durante a segunda república. Portanto, trata-se de uma atividade em grupo a ser realizada em biblioteca, casa dos alunos ou em outros lugares em que se sentirem confortáveis para a realização do trabalho. Trata-se de uma atividade escrita a ser entregue na próxima aula, podendo incluir pesquisas aos diversos suportes. Para isso, será preciso que os discentes historicizem a vida e obra do artista e, posteriomente, façam a análise da canção levando em conta as seguintes questões: a representatividade do artista e por quem ele fala; quais são os elementos que caracterizam a vida cotidiana e a paisagem sociopolítica do momento histórico retratado, quais são os aspectos identificados na composição que possam ser comparados com outras composições ou acontecimentos atuais e as possíveis contraposições de ideias que possam aparecer em relação ao conteúdo estudado anteriormente e/ou em relação ao conhecimento prévio dos discentes.


Referências

ABUD, Katia Maria. Registro e representação do cotidiano: a música popular na aula de história. Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 67, p. 309-317, set./dez. 2005

BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED)/ Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p. 131 – 144

CAPELATO, Maria Helena. O Estado Novo: o que trouxe de novo? In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília A. N. (org.). Brasil Republicano; vol. 2 – do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

GOMES, Thiago de M. Gente do samba: malandragem e identidade nacional no final da Primeira República. s/d.

KOSELLECK, Reinhart. “Espaço de experiência” e “horizonte de expectativa”: duas categorias históricas. In:______. Futuro Passado – contribuição à semântica dos tempos históricos. Trad. Carlos A. Pereira. Rio de Janeiro: Contraponto/PUC RJ, 2006. p.305-327.

LEOPOLDI, Maria Antonieta P. O difícil caminho do meio: Estado, burguesia e industrialização no segundo governo Vargas (1951-1954). In: GOMES, Ângela de Castro (or.). Vargas e a crise dos anos 50. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.

NAPOLITANO, Marcos. História & Música: história cultural da música popular. Belo Horizonte: Autêntica, 2002).

NAPOLITANO, Marcos e WASSERMAN, Maria Clara. Desde que o samba é samba: a questão das origens no debate historiográfico sobre a música popular brasileira. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 20, nº 39, p. 167-189, 2000.

PARANHOS, Adalberto. Entre sambas e bambas: vozes destoantes no “Estado Novo”. Locus: Revista de História, Juiz de Fora, v. 13, n. 2, p. 179-192, 2007.

RÜSEN, Jörn. Razão histórica. Teoria da história: os fundamentos da ciência histórica. Tradução de Estevão de Rezende Martins. Brasília: Ed. UNB, 2001, 194p.

VICENTE, Eduardo. A música popular sob o Estado Novo (1937-1945). São Paulo, 2006.